Conversamos com Oscar Fergutz, Arquiteto e Urbanista pela UFP, para mergulhar no programa de reciclagem do COI, que busca o aumento da circularidade dos resíduos recicláveis a partir do desenvolvimento de novas tecnologias no Brasil.
Segundo ele, o principal desafio está em equilibrar soluções que melhorem tanto a qualidade, segurança e produtividade de catadores, assim como ampliar significativamente a circularidade dos plásticos e, consequentemente, a redução do volume direcionado aos aterros.
Confere abaixo o material completo.
WTT: Nos explica como funciona e quais as premissas do projeto de reciclagem da WTT / IRR? Qual a sua atuação nesse ambiente?
O: Entendo que as premissas do projeto são similares/alinhadas às premissas do COI de que há um grande potencial em conectar as melhores cabeças da pesquisa no Brasil com alguns dos nossos problemas mais críticos.
Historicamente as soluções que implementamos na reciclagem (da coleta à reintrodução nas cadeias produtivas) são importadas, frequentemente do hemisfério norte. Além de não serem totalmente adequadas ao nosso contexto (social, ambiental, etc), elas tendem a ter um custo adicional de importação e alimentam um ciclo negativo de dependência. Seguindo a metodologia do COI, o projeto busca contribuir para o aumento da circularidade dos resíduos recicláveis a partir do desenvolvimento de novas tecnologias no Brasil. Meu papel é caracterizar os principais desafios da circularidade dos plásticos para, juntamente com o pesquisador e professor Sandro Mancini (consultor responsável pelo mapeamento das equipes científicas), desenhar soluções tecnológicas e orquestrar equipes de pesquisador@s extraordinários que possam desenvolvê-las. É um trabalho de muito diálogo e articulação dos atores da cadeia de reciclagem com cientistas e pesquisadores de ponta.
WTT: Quais os principais desafios que o desenvolvimento sustentável engloba na sua perspectiva?
O: Os dois principais desafios são o climático e o social, ambos profundamente conectados ao sistema produtivo exploratório, extrativista e gerador de desigualdade que construímos até aqui. Precisamos encontrar formas de continuar produzindo riqueza com MUITO menos impacto ambiental e, ao mesmo tempo, distribuir a riqueza produzida de maneira muito (MUITO!) mais ampla e justa. Importante salientar que não me refiro somente a riqueza financeira (que evidentemente é importante e claramente completamente desigual e injusta), mas a todos os bens públicos produzidos pelo conjunto da sociedade (conhecimento, tecnologia, saúde e até mesmo os espaços – físicos e virtuais). É importante também ter presente que isto só se faz de forma realmente transformadora, ampliando a participação e a voz, fortalecendo a liberdade e a democracia. Ou seja, não adianta resolver os problemas climáticos e sociais de forma autocrática e centralizadora.
WTT: A longo prazo, que reflexo o projeto terá para a população em geral?
O: Como ainda não temos muita clareza das soluções que poderão ser desenvolvidas, é um pouco cedo para falar em impactos mais concretos. Mas estamos trabalhando com muito foco em equilibrar soluções que melhorem tanto a qualidade/segurança/produtividade d@s catador@s como que ampliem significativamente a circularidade dos plásticos e, consequentemente, a redução do volume direcionado aos aterros. Esperamos com isso gerar benefícios reais para a sociedade e o meio ambiente.
WTT: De que forma esse assunto pode ganhar, cada vez mais, voz na mídia e ser pauta essencial nos governos da América Latina?
O: Juntamente com as questões relacionadas à emissão de carbono e de água, a reciclagem – e a circularidade – continuará ganhando visibilidade. São temas de enorme importância para a nossa sobrevivência neste planeta e todos teremos que conhecê-los e enfrentá-los em conjunto. As tarefas de regulamentação que os governos terão que fazer sobre os grandes geradores de resíduos só serão possíveis com amplo apoio e pressão da sociedade em geral. Também por isso a proposta do COI é tão interessante: ela qualifica as discussões sobre os temas, além de fomentar o desenvolvimento de soluções nacionais. E um dos desafios do COI será produzir informação acessível e compreensível a todos os cidadãos. Sabemos que histórias de sucesso são motivadoras e engajadoras e podem levar a mudanças de comportamento coletivo. Tenho certeza que teremos bonitos exemplos de pesquisas em desenvolvimento e novas soluções para difundir amplamente.