Como mensurar os obstáculos que as cidades atuais enfrentam? Em meio a tantos desafios sociais e desastres ambientais vividos pelos centros urbanos na América Latina, a WTT criou um método de sistematização para projetar os impactos relacionados à resiliência.
Para contextualizar o assunto, conversamos sobre mudanças climáticas e formas de mensuração com Igor Oliveira, consultor WTT do programa Cidades Resilientes. Confere abaixo.
W. Qual o seu papel no Cidades Resilientes? Como a WTT agrega nos temas
I. Estamos fazendo a sistematização de uma série de desafios, que são pequenos programas de inovação orientados à resiliência de sociedades urbanas na América Latina. Esses desafios envolvem pessoas empreendedoras na busca por soluções para aumentar a resiliência dessas sociedades, em parceria com governos, fundações privadas e empresas. A WTT trouxe um método de sistematização que vai além da descrição dos processos de inovação que ocorreram em cada cidade. Nossa ambição é projetar os impactos em termos de métricas de resiliência utilizadas pelas próprias cidades e por outros atores importantes. Para isso usamos modelagem computacional.
W. Como funciona essa relação entre a metodologia de modelagem de sistemas complexos aplicada à resiliência?
I. Visto que sociedades urbanas são sistemas complexos, não é possível mensurar resiliência sem considerar essa complexidade. A capacidade que as cidades têm de resistir e responder aos maiores choques e tensões do nosso tempo depende das suas estruturas sociais e da relação que cada sociedade tem com os recursos naturais e humanos. Um empreendimento de economia circular, por exemplo, não vai ter o mesmo impacto na Cidade do México e em Salvador. Para poder projetar o impacto das inovações criadas nesses programas que estamos sistematizando, precisamos considerar essas questões estruturais. Por isso utilizamos um método de modelagem, chamado dinâmica de sistemas, que é próprio para situações onde a estrutura do sistema conta muito.
W. Quais os grandes temas de resistência que as cidades enfrentam atualmente?
I. As variações climáticas, cada vez mais acentuadas, têm criado uma nova classe de riscos para as cidades. A probabilidade de desastres, como inundações e grandes incêndios, tem aumentado. Além disso, sofrem com pressões de longo prazo, como perda de produtividade na produção de alimentos.
Outro tema importantíssimo na América Latina é a desigualdade de gênero. Nossas sociedades urbanas estão cada vez mais atentas ao fato de que essa é uma ferida aberta que sangra continuamente desde a época colonial.
É importante ter em mente que esses dois temas, clima e gênero, não estão desconectados. Sociedades mais igualitárias têm mais chances de enfrentar as mudanças climáticas. Por outro lado, o clima não causa danos iguais a todos: grupos sociais desprivilegiados tendem a sofrer mais. A dimensão social do clima ainda é pouco falada, e deve ganhar importância nos próximos anos.
W. Quais outros riscos poucos falados estamos lidando atualmente?
I. Acho interessante pensar que também estamos lidando com uma outra categoria de riscos existenciais: os riscos tecnológicos e informacionais. Os dados que poderiam ajudar as sociedades urbanas a lidar com seus maiores problemas, estão, muitas vezes, sendo entregues às grandes plataformas digitais globais que, por sua vez, revendem essa informação a atores que manipulam os sentimentos e o tecido social para fins comerciais ou projetos de poder. Por isso, é fundamental criar modelos computacionais que descrevam a dinâmica das cidades e que estejam disponíveis para atores desprivilegiados.